2008-04-01

jornadas quercus





PROGRAMA ABRIL
Sistemas de Avaliação e Certificação da Sustentabilidade de Edificações

Data: 19 de Abril 2008

Local: Auditório do Museu Nacional Soares dos Reis (Porto)

10h00 – Entrega de documentação
10h15 – Apresentação por Arq. Miguel Nery - CDRN Ordem dos Arquitectos
10h30 – Edifícios Saudáveis - Eng. Ricardo Sá
11h15 – Intervalo
11h40 – Sistema de Certificação LEED: o caso da HF e da ECP – Arq. Inês Cabral
12h10 – Construção Sustentável - Arq. Livia Tirone
12h45 – Debate
13h00 - Almoço
15h00 – Sistema de Certificação LIDERA - Prof. Manuel Duarte Pinheiro (CEHIDRO/DECivil)
15h45 – Ponte da Pedra – Arq. Carlos Coelho
16h30 – Intervalo
17h00 – A importância da certificação ambiental na Nova Promoção Imobiliária - F. Rocha Antunes
17h30 - Debate

Moderador: Arq. Miguel Nery - Conselho Directivo Regional do Norte da Ordem dos Arquitectos.

cidades compactas


Inverter o modelo de desenvolvimento urbano é mais do que urgente

Criar cidades compactas

Quando se esgotou o modelo de desenvolvimento urbano, é urgente mudar o rumo. Criar cidades compactas é apenas um aspecto a ter em conta, neste processo de sustentabilidade a abordar a partir de hoje. Ao longo de quatro jornadas da Quercus outros aspectos serão aventados.
Isabel Fernandes

Não mudar o modelo de desenvolvimento urbano que tem vindo a ser seguido não é uma opção. Porque “está esgotado” e, como tal, “difícil ou não, não temos outra alternativa”. Não é nova esta perspectiva e Adriana Floret é clara ao garantir que “não há outro caminho”, chamando “a atenção para a reabilitação dos centros históricos das cidades”, como “um exemplo de desenvolvimento sustentável”. Processo que a O PRIMEIRO DE JANEIRO, a arquitecta do Núcleo Regional do Porto da Quercus apelidou de “fundamental para a nova linha de construção que terá que surgir”. É que a par dos próprios meios de construção, e também eles terão que mudar, é urgente que se pense no reenquadramento das políticas nacional e local às novas exigências internacionais. Mas a reabilitação dos centros históricos das cidades, “que pode ser vista como uma gigantesca operação de reciclagem”, recriando “uma densidade urbana elevada” não é apenas o que Adriana Floret defende “é, justamente, o modelo urbano sugerido pela maior parte dos especialistas como o modelo mais eficiente do ponto de vista ecológico”. A explicação para que a reabilitação dos centros históricos seja “um instrumento precioso” é simples: “Esta criação de cidades compactas permitirá a redução das deslocações, a racionalização dos transportes, a libertação de solo para outros fins que não a urbanização”, bem como, a coesão social.
A propósito das Jornadas Quercus de Arquitectura Sustentável, que arrancam hoje no auditório do Museu Nacional Soares dos Reis, Porto, o JANEIRO falou com esta responsável envolvida na organização da iniciativa que decorre até Maio: hoje, 29 de Março 2008, 19 de Abril 2008 e 24 de Maio. Adriana Floret é categórica: “A mudança não é só desejável. É obrigatória pelo futuro do Planeta”. Lembrando que “é nas cidades que se decide o futuro do ambiente global” suporta a ideia naquilo que chama “números esmagadores”: 50 por cento dos recursos materiais mundiais destinam-se à construção, 45 por cento da energia gerada destina-se ao aquecimento, iluminação e ventilação de edifícios. Não deixou de acrescentar cinco por cento que são gastos para os construir. Quarenta por cento da água utilizada no mundo serve para abastecer instalações sanitárias e outros usos nos edifícios, mas os números que tem para lançar não acabam aqui e lembra os 70 por cento dos produtos de madeira que se destinam à construção, apontando igualmente que 60 por cento da melhor terra cultivável foi ocupada pela construção.
Se é inevitável que os responsáveis pelo sector da construção mudem o tipo de materiais que usam e as casas que constroem, não é menos verdade que os consumidores têm um papel fundamental. Porque, é convicção da arquitecta, quando estes começarem a exigir, o mercado terá que acompanhar. Mas “a inversão de procedimento é sempre difícil e as resistências acontecem inevitavelmente”, reconheceu Adriana Floret, que, em todo o caso, insistiu na consciencialização de cada um, que será mais importante do que as próprias leis. E aqui não deixou de fora (quase) ninguém: “É necessário que as pessoas tenham consciência sobre todos os factores que estão inerentes aos gastos energéticos. E quando digo pessoas, digo desde arquitectos a promotores e utilizadores”. Insistindo que a mudança exigível, mas que está a demorar a entrar no mercado de forma regular, deixando de aparecer como excepções, terá que surgir pela exigência do consumidor/comprador de qualidade e sustentabilidade da sua própria casa a partir “de um maior conhecimento”. Saber que Adriana Floret diz ainda faltar em relação “às técnicas de construção ambientalmente sustentável” atribuindo, igualmente, ao desconhecimento por parte do mercado “das vantagens económicas e sociais” deste tipo de construção. Lembra, contudo, que “o mercado imobiliário dos nossos dias já não é o mesmo de há dez ou 20 anos” e que a sensibilidade que as gerações mais recentes demonstram em relação às questões ambientais fará com que “a oferta tenha de se adequar a estas novas exigências”. Aponta igualmente o dedo à “formação de técnicos [a todos os níveis] e à oferta de produtos”. E apesar de acreditar que “estamos a atravessar um momento de transição”, crê que “estas anomalias serão corrigidas nem que seja pela exigência do mercado nacional e internacional”. Confiança que se estende à crítica em relação à generalidade da formação sobre a arquitectura e engenharia sustentáveis, que “continua a ser excepção quando devia ser a regra”, bem como “a oferta de produtos ecológicos”, que se mantém como uma secção especial dos catálogos dos fornecedores, “quando devia constituir a oferta principal”.

Custos
Também “a questão custos” foi referenciada pela arquitecta da Quercus-Norte, dizendo que “é cada vez mais decisiva”. E não se refere aos custos da arquitectura sustentável, que – diz – não serem muito diferentes dos da construção clássica, refere-se sim “aos custos inerentes de uma concepção e uso irracionais do edificado”. E aqui surge uma questão, colocada na inversão de papéis e é a própria a fazê-la: “Sabia que, segundo a Agência de Energia do Porto, 58 por cento da energia consumida neste concelho deve-se ao sector da habitação”. “E isto pesa, e de que maneira, no bolso das famílias”, reforça. Mas vai mais longe e junta o desperdício da água que “mais tarde ou mais cedo vamos também pagar bem caro”.
E tamanha importância a água (um bem escasso) representa em diversos pontos da arquitectura que vai mesmo abrir as jornadas da Quercus, sob o nome «Conservação e uso racional da água», que irá abordar vários ângulos de uma só problemática. A este propósito, a arquitecta Adriana Floret lembrou que “40 por cento da água utilizada no mundo serve para abastecer instalações sanitárias e outros usos nos edifícios”. Daí a importância de se discutirem as várias formas de aproveitamento da água, nomeadamente a proveniente das chuvas. “Reaproveitá-la para lavagem de carros, rega de jardim, utilização em sanitas, máquinas de lavar roupa e louça”. E isto apenas para dar alguns exemplos onde o reaproveitando se alia à poupança. É que é igualmente essencial aprender a poupar. E neste campo, a selecção de aparelhos sanitários é outra forma de reduzir o consumo da água (com dispositivos de dupla descarga) e torneiras (com limitador de caudal). Nas jornadas serão ainda apresentados outros sistemas que servem este propósito, para além de esclarecerem sobre o reaproveitamento “depois deste ciclo de utilização doméstica”. Onde será explicado como é que “as águas dos esgotos podem ser reaproveitadas para a climatização e refrigeração dos edifícios”. Para quem pensar que isto se situa já para lá da realidade, Adriana Floret garante o contrário: “Isto não é ficção científica”. Diz mesmo que “existe, inclusive, quem esteja a estudar esta solução justamente para o Porto”.

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Um exemplo a notar
Em Portugal existem exemplos de construção que merecem relevância e o conjunto residencial da Ponte da Pedra, Matosinhos, certificado pelo LiderA, e que deu origem ao primeiro Empreendimento Cooperativo de Construção Sustentável em Portugal mereceu o apontamento de Adriana Floret como “um caso interessante”. Recorde-se que O PRIMEIRO DE JANEIRO falou deste tema em Agosto passado e abordou igualmente aquele como exemplo de arquitectura sustentável. A arquitecta da Quercus-Norte realçou ainda que desta forma foi “contrariada a ideia mais ou menos generalizada de que a arquitectura sustentável é uma arquitectura para um público-alvo restrito pelos valores que atinge”.